A mensagem de Brown sempre foi forte e contundente, mas hoje o músico
prepara o lançamento de um álbum solo, no qual o soul e o romantismo
predominam. Isso não significa, nem de longe, que o seu pensamento tenha
se modificado, até porque muito do contexto que propiciou o nascimento
do Racionais ainda está presente na realidade brasileira. “Eu não estava
falando de chacina, de nada disso, estava preparando um disco de música
romântica, aí começou a morrer gente aqui e tive que fazer alguma
coisa.”
O músico se refere à chacina que matou sete pessoas na região do Campo
Limpo, zona sul paulistana, em 5 de janeiro. Entre as vítimas, o músico
DJ Lah, em um primeiro momento tido como autor de um vídeo que
denunciava a execução de um comerciante no mesmo local, feita por
policiais. A informação foi desmentida depois, mas o espectro de que se
tratava de uma vingança paira sobre a população do lugar. E Brown fala
sobre as possíveis consequências para quem viu e sentiu a tragédia de
perto. “Essa ferida não vai cicatrizar, quem mora naquele lugar onde
morreu o Lah não vai esquecer, os moleques vão crescer, mano. Quem viveu
aquilo não vai esquecer.”
Mano Brown fala sobre a falta de oportunidades
na periferia, do racismo, de um sistema que oprime, mas também ressalta o
que ele considera ser o nascimento de um novo Brasil, destacando o
papel da nova geração. Assim, ele mesmo tenta se “reinventar” para
seguir na luta que sempre foi dele e de muitas outras pessoas. “Para dar
continuidade ao trabalho, temos que caminhar pra frente, a juventude
precisa de rapidez na informação, não dá pra ficar debatendo a mesma
ideia sempre. É fácil para o Brown ficar nessas ideias, fácil, é até
covarde ficar jogando mais lenha, então fui buscar as outras ideias, que
passam pela raça também, com certeza.”
Fórum (Pergunta): – E quem está matando nas periferias?
Brown (Responde): – A polícia. O braço armado, conexões armadas, de direita.
Fórum (Pergunta): – Você tem um histórico de estranhamentos com a polícia…
Brown (Responde): – Houve a época em que soava o gongo, a gente
saía dando porrada pra todo lado, não olhava nem em quem. Outra época, a
gente procurava a polícia pra sair batendo. Hoje em dia, espera pra ver
quem vai vir. Não é só a polícia, são vários poderes. A gente não foca
na polícia, a polícia é um tentáculo do sistema, o mais mal pago. Mas é
armado e chega com autoridade, é um tentáculo perigoso. E tem várias
formas de matar, de matar o preto.
A íntegra da entrevista está na edição 120 da revista Fórum.
Foda memo viva MANO BROWN
ResponderExcluirUm dos caras mais inteligentes que eu ja vi.
ResponderExcluirMe sinto muito bem representada por vc Brown voz da periferia
ResponderExcluir